Letícia acordava todo dia às sete
horas da manhã, para abrir o bar em que trabalhava. Ela era admirada e
respeitada pelo dono do bar, o seu Gilberto, e trabalhava na copa de um bar
para poder pagar a faculdade de administração, que ela cursava o penúltimo
semestre. Apesar de fazer curso universitário, Letícia tinha um pensamento
mesquinho e pequeno. Ela era sempre importunada pelos clientes, que ficavam de
domingo a domingo, que bebiam, fediam e estragavam seu dia.
Apesar de tudo que ela passava, o
seu dia era iluminado quando o bar recebia a visita de um homem de terno e
gravata, usando uma pasta e conversava com todos os clientes do bar, com um
sorriso amistoso. Ele nunca pediu algo, e nem dava tempo. Seu Gilberto sempre
expulsava o rapaz antes que ele pudesse pedir alguma coisa. O rapaz irritava o
dono do bar.
O que mais irritava a universitária
era trabalhar em cima dos vícios. Os homens gastavam no jogo de sinuca, jogo do
bicho, cerveja, cigarros, enquanto a família deles, era o que imaginava ela,
vivam na miséria, sem ter dinheiro para comprar a mistura do almoço. Letícia
era bem humanitária, se inspirava na Madre Teresa de Calcutá. Sempre quis fazer
o bem para todos, livrar todos do vício e apresentar-lhes um mundo melhor.
Um dia, seu Gilberto não conseguiu
acordar de seu sonho, entrando no sono eterno. Para a surpresa de Letícia, seu
Gilberto tinha deixado o bar para ela em seu testamento. Letícia, muito
abismada, sentiu-se ofendida pela herança recebida. Como o velho Gilberto acharia
que ela receberia o bar? Letícia estava decidida em fechar o bar e abrir um
negócio mais saudável, além de permitir o moço bonito frequentar o seu
estabelecimento.
Ao ter um encontro com o advogado de
seu Gilberto, Letícia viu o faturamento do bar, e ficou fascinada. O bar
ganhava mais do que ela almejava ganhar com a sua faculdade. Letícia sabia que
aquilo era um sinal divino. Ela então resolveu manter o bar.
Depois de uma pequena reforma, os
velhos clientes voltaram a frequentar o bar de Letícia, e com eles, veio o
homem de terno e gravata. Ele foi se aproximando de Letícia e logo vieram mil
pensamentos na cabeça da universitária. “O que devo falar? O cara deve ser um
empresário, um advogado, e eu? Não sei o que falar!”. O homem foi até ela, se
apresentou como Marcos e abriu seu sorriso amistoso.
Letícia suava frio, não conseguia
falar. Marcos então resolveu mostrar suas intenções, ele queria fazer um
trabalho de evangelização nos clientes de Letícia. Ela ficou com o rosto
vermelho, mostrando sua irritação. “Como assim? Ele quer tirar a minha
clientela? Nem a pau!”. Letícia expulsou Marcos de seu bar, assim como seu
Gilberto fazia tantas vezes. Afinal de contas, Letícia tinha se apaixonado pelo
dinheiro, e não haveria moço bonito que fosse capaz de acabar com esse amor.